Eu tinha doze anos quando chegou a Jardim uma professora de Português, fina, elegante, pessoa de enorme capacidade didática e de grande cultura. Muito dedicada e moderna, ela criou um Grêmio Cultural no Ginásio onde estudávamos. E além das aulas de português, cuidou também de ensinar poesias, leituras, postura, tudo que nos prepararia para sermos moças elegantes e educadas. E confesso que comigo ela teve muito trabalho, pois eu tinha um misto de timidez doentia misturado com complexo de inferioridade. Ou talvez isso fosse o problema hormonal comum a todos os adolescentes em qualquer época, em qualquer lugar do mundo, não sei, o que sei era o que eu sentia! Embora nós estudássemos no único ginásio que havia, eu sabia que a cidade era dividida em dois mundos : os filhos de militares, de funcionários públicos federais e de fazendeiros de um lado e o povo comum de outro lado.
Chegou o dia da apresentação de final de ano, onde mostraríamos todo nosso progresso resultante do árduo trabalho de nossa querida mestre. Entre poesias, poemas, musicas, trovas, quadrinhas, peças teatrais, coral, jogral, etc…lá estava eu, congelada, em pânico, esperando minha vez de subir ao palco. E subi, falei o meu poema, olhos grudados nos olhos da minha mestre, que me encorajava silenciosamente. Ao recitar o último verso lembro-me de que a frase era: Bendita é a morte, que é o fim de todos os milagres! Para mim significava: Bendita é esta frase, pois significa que consegui chegar ao final! A plateia foi generosa nos aplausos e eu rápida em sumir no meio dos colegas! Rsrs.
Hoje vejo que a maturidade tem suas vantagens, não existe mais nenhuma divisão, nem timidez, nem diferença. Este ano resolvi festejar meu aniversário aos moldes da minha mãe, que fazia questão de comemorar a vida, quando possível em grandes festas, se não, com o que desse para fazer, mas jamais sua data natalícia passaria sem comemoração. Pois bem, com a grande plateia formada por familiares e amigos, alguém me estende um microfone e na maior naturalidade eu me vejo falando o que me vem da alma, do coração, sem nenhuma preocupação a não ser o de transmitir o que eu estava sentindo.
Eu evoluí! Obrigada a minha mestre e Parabéns para mim, em meus 65 anos!