MEDO

Luiz descia a rua assoviando. Mais uma quadra e meia chegaria em sua casa. O bairro era escuro, poucos postes de iluminação, o dia ainda no lusco-fusco do alvorecer. Ele era porteiro de um hospital e estava vindo de seu plantão noturno.

Antes da esquina onde morava, Luiz passou em frente ao que fora uma mercearia, agora abandonada, quando seus pés toparam em alguma coisa grande e, desse tropeço, quase foi ao chão.

Aprumou-se, virou a cabeça  para ver o que era. Como a varanda da antiga mercearia  estivesse na penumbra ele se aproximou mais, para conferir no que havia esbarrado.

Quase desmaiou com o que viu. Deu dois passos para trás, cambaleando colocou as mãos na cabeça, olhou para um lado e para o outro e dirigiu-se rapidamente para um orelhão que ficava na extremidade oposta da calçada.

Luiz acabara de encontrar um corpo!

Um corpo de mulher!

Sem titubear ele ligou para o numero da policia.

As viaturas chegaram buzinando meia hora depois e foi aquele movimento de curiosos, todos com olhares incrédulos.

Jovem, nua, com os braços abertos em formato de cruz, os pés um sobre o outro, como do calvário, amarrados por um pedaço de pano estampado talvez rasgado das próprias vestes da mulher.

Após várias fotos e todos os levantamentos de praxe recolheram o cadáver e Luiz seguiu dentro da viatura.

Durante o dia, a padaria do bairro foi o ponto de encontro onde as noticias eram passadas entre os moradores. Todos eram unanimes em contar que Luiz estava bem e em sua casa. Ele apenas deu seu depoimento e foi orientado a ficar à disposição da policia.

O corpo foi identificado como de uma garota dos arredores que costumava beber em companhia dos homens ate tarde da noite. Dai em diante as historias iam aumentando, mas nada havia de concreto que levasse ao motivo do crime, ou ao criminoso.

O cotidiano se desarruma em ocasiões que fogem à normalidade. Os velhos que faziam das calçadas seu lugar de passar o tempo, enquanto a casa era organizada e o almoço feito, não apareceram; os bebados a quem pouco importa o tempo, mudaram de boteco, as crianças não brincaram pelos arredores, até os cachorros que modorram ao sol, ou transitam e brincam entre si, tudo ficou diferente. O ar da morte é inexplicável. E morte violenta é mais ainda.

Antes que passasse esse período estranho, ou o fato caísse no esquecimento, eis que menos de um mês depois, ao escurecer, uma empregada domestica pedalava sua bicicleta por um atalho, que a faria ganhar tempo para chegar em casa, quando foi vista correndo como doida, até cair desmaiada na porta do primeiro casebre da rua.

Os moradores a ampararam, deram-lhe agua para beber, foram buscar sua bicicleta que ficara jogada, enquanto aguardavam a cor voltar ao seu rosto e ela poder contar o que havia acontecido.

Não precisaram mais esperar! As crianças descabeladas, descalças, sem camisas, moradoras do local, vieram do campinho onde jogavam bola  gritando: “Tem um morto, tem um morto”!

Sim senhores! Um rapaz morto, braços abertos, pés sobrepostos e amarrados, tal qual a mulher que Luiz encontrara dias antes.

Nada se compara ao que aconteceu daí em diante. Televisão, repórteres, jornalistas, mães apavoradas, escolas sem aulas, o pânico se instalou naquela cidadezinha de menos de 20 mil habitantes.

A capital mandou reforço policial, rondas, batidas policiais, toque de recolher, a vida em suspenso, sem aulas nas escolas, a semana perdida

O assassino já tinha uma alcunha: “Defensor da Moral”. Mas ainda faltava ser identificado e preso.

Desta vez o morto fora um rapaz que vivia com a família. Nunca se meteu com drogas, era bom filho e trabalhava na construção civil. Ali mesmo dentro da obra em que era ajudante de pedreiro ele foi morto. Não estava nu, apenas sem camisa. A posição em que foi encontrado não deixava duvidas: fora morto pelo mesmo assassino da jovem de dias atras.

A policia deu batida nas casas, fez interrogatórios, pediu riqueza de detalhes dos prováveis suspeitos.

Quem namorara a moça? Com quem ela vivia? Tinha desafetos? Essas eram as perguntas do primeiro caso. Com o rapaz do segundo caso, como era de apenas 18 anos, as perguntas foram: brigou com alguém? Devia dinheiro? Estivera fora da cidade? Nada! Nenhuma pista.

Passaram-se dois meses e como dizem “viuvo é quem morre”, infelizmente a vida foi voltando ao normal na cidade.

Já não se viam mais tantos policiais, a vida noturna no pequeno quadrilátero igreja, prefeitura, praça, correios voltou a ser ponto de passeio de transeuntes, apenas a mãe do pobre rapaz ainda chorava sua morte.

Quanto a primeira vitima, como  não era  natural da cidade, não despertou tanta comoção.

Não se ouvia mais nada nas rádios, nem televisão, nenhuma notícia.

Mas as investigações estavam adiantadas nos bastidores policiais. Entre o meio já corria a versão de que o assassino seria um  psicopata. Um psicopata! Isso tornava o caso mais amedrontador. Significava que não havia motivo para o crime, qualquer pessoa poderia ser uma vitima em potencial. Outra característica era de que assassinos dessa natureza gostam de ser noticias,  ser lembrados, mostrar a sua esperteza, enfim.

Eis que acontece uma nova morte! Tres meses depois da  primeira jovem, dois meses do segundo caso, sem nenhum suspeito dos crimes, surge o terceiro caso!

Uma estudante de 13 anos! Uma menina!

Deixada na mesma posição dos outros dois, na mata, perto do caminho da escola. Nesse caso, um menino com quem a garota estava vindo da escola e talvez iniciando um namoro viu um homem vindo na direção deles e saíram correndo.

Ela saiu para um lado e ele para outro. Infelizmente a garota foi pega e morta. Mas o jovem que estava com ela viu e deu a  descrição de quem era o assassino.

E isso fez com que ele fosse descoberto.

Dentro de sua casa, mãe trabalhando fora, aos 16 anos a mente de um psicopata havia aflorado.

“psicopatas e sociopatas possuem muitas características em comum. As duas condições resultam em indivíduos imorais, mentirosos, inteligentes e manipuladores, por isso muitas pessoas utilizam os termos como sinônimos”.

Todos na cidade já sabiam quem era o assassino e a causa dos assassinatos. A causa era o seu julgamento moral. Ele julgava e matava. A prostituta, o rapaz solitário, a namorada. Tudo devidamente registrado em um caderno. Um justiceiro da moral e dos bons costumes. Uma mente doente.

Ele foi preso e tirado da cidade. A policia temia pelo seu linchamento.

Luiz foi liberado da restrição de não sair da cidade, assim como  os moradores do subúrbio onde a segunda vitima fora encontrada. O rapazote que estava com a ultima vitima e sua família mudaram-se de lá.

O psicopata, um jovem de 16 anos, em cujo quarto foi encontrado lista de nomes de pessoas, desenhos macabros, livros de exorcismo e mais vários objetos que denunciavam a sua condição mental, hoje atormenta os oficiais de segurança, pessoal da enfermagem, juizes, defensores e todos os profissionais que precisam lidar com ele. As suas ações, o seu olhar e o seu histórico de crimes falam por si.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Publicado por blogdadivinablog

Me autodenominei Divina, Perfeita e Maravilhosa. Não é por vaidade e sim porque acredito que foi assim que Deus nos criou: à sua imagem e semelhança. Mesmo que humanamente isso pareça impossível, ao expressar minha crença me sinto bem. Busco o melhor sempre. Tenho fases, sou de Libra e isso ajuda a explicar minhas qualidades e meus defeitos. Amo a vida, minha família, meus amigos. Estudei bastante, sempre gostei de ler, li romances, documentários, biografias...mas minha maior bagagem é de vida, pois sou intensa. Amo muito, preocupo-me muito, erro muito, e procuro muito acertar! Vou dividir com vcs um pouco da minha experiência de vida, neste espaço que considero meu "travesseiro virtual" e o convido a compartilhá-lo comigo. Venha?! Criei este blog em agosto de 2010 na plataforma blogspot. Posteriormente o trouxe para o WordPress . Agora em 2021 estou agregando-o ao meu site asdivinas.com.br

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