As colinas faziam parte dos dois sonhos. Na verdade, não eram propriamente colinas. Havia longos trechos planos, algumas pedras ou rochas que formavam os aclives, e novamente a planície.
O proprietário da primeira casa escolhera a parte plana ao fundo do terreno para construir o casarão. Sendo assim, havia uma alameda em suave relevo que levava ao portão principal. O jardim era enorme, o gramado impecável e os canteiros de flores de variadas cores ornamentavam a amplitude e beleza do verde gramado que reinava absoluto desde a casa até o grande portão branco da entrada. Não havia plantas altas que escondessem a visão magnifica do jardim tanto para quem estava no interior da residência, como para quem chegasse ao portão desta. O espaço convidava à contemplação da natureza em seu esplendor , pois não havia fontes, topiaria e nem desenhos geométricos como nos jardins de Versalhes. O cuidado e capricho dos jardineiros fizeram jus ao belo projeto da casa que se via rodeada pela paisagem cheia de flores e plantas compondo de forma natural um maravilhoso conjunto.
A casa era de uma beleza simples com seu telhado ocre, suas paredes brancas e os arcos que formavam uma varanda estreita em toda a sua volta.
Cozinha, sala de jantar, biblioteca tinham largas portas laterais que abriam para o jardim, e eram de fácil acesso. Os móveis eram escuros, de madeira nobre e finamente entalhadas com arabescos e flores.
A cozinha lembrava aquelas medievais, com muito cobre nos utensílios que brilhavam pendurados em prateleiras abertas.
A poucos metros dali, um lindo caramanchão com todo o conforto de mesa de chá, poltronas, tapetes e almofadas demonstrava ser um lugar convidativo para reuniões festivas e descansos felizes em uma atmosfera de esplendor e opulência.
Essa foi a visão que tive. Foi tão real que ao voltar pela sala de jantar, passei os dedos para sentir os pequenos tachos metálicos que ornamentavam os espaldares das cadeiras. E senti.
Da outra residência eu não vi o interior. Sei que a porta ficava ao canto e não no meio da construção. Saindo da porta, descia-se alguns degraus e logo uma calçada não muito larga, de pedras, dava continuidade a um caminho ornamentado por plantas assimétricas em toda a sua extensão.
As plantas pareciam ter nascido e se misturado naturalmente, flores vermelhas escuras, azuis, laranjas, amarelas, lírios, desciam serpenteando em volta da alameda de pedra. Quem estivesse descendo pela calçada em declive, e voltasse o olhar para apreciar a residência ou dar adeus a quem o levara à porta, no plano mais alto do terreno teria a visão da bela residência branca, com a porta principal e varias janelas de madeira trabalhadas em um modelo de treliças com arcos, como dos castelos medievais.
Além disso o olhar poderia perder-se no magnífico cenário composto pelo verde do gramado que parecia abraçar aquela residência e era tão perfeito que mais parecia um campo de golfe.
Ao continuar a descida, à direita via-se uma linda pontezinha de madeira, ladeada de arbustos chamados de bambu de jardim e samambaias variadas, em uma profusão de vários tons de verde, digna de um quadro.
Ouvia-se um burburinho e mais adiante estava -se às margens de um riacho de agua cristalina, com múltiplos peixinhos coloridos que passeavam sobre as pedras logo abaixo da superfície. O ar parecia diferente. Acreditei que ali era o Paraíso! Foi tão nítida essa percepção que nem precisei tocar em nada. A magia se encontrava no ar.
M.Elza