As crianças na década de setenta tiveram um ou mais de um, com certeza! Pode ter sido colorido e grande. Pode ter sido retângulo pequeno em preto e branco.
Não era barato. Nem era comum. Era uma oportunidade surgida lá de vez em quando. E quando era de carneiro? Um acontecimento! Vinha o retratista com o animal pintado de vermelho, que puxava uma carrocinha. Colocava-se a criança dentro para tirar a fotografia. Confesso: ficavam lindos!
E a época em que se fazia com cinco ou seis poses em um quadro só: dedinho na boca, cabelo penteadinho para trás, gravata borboleta, chapéu.
Meninas de laçarote no cabelo, mãozinha debaixo do queixo, olhar para o horizonte…
Outras vezes, era na escola, com a bandeira brasileira na parede e o globo terrestre sobre a mesa.
Não era para qualquer um. Custavam caro. Pobre não fazia.
Ocasionalmente vinham uns que aproveitavam o que já havia e pintavam à mão, copiando e ampliando. Esses então eram quase artistas e caríssimos!
Como os tempos mudaram! Tudo bem, já se vai meio século. Mesmo assim é uma mudança muito significativa! Em épocas de caras e bocas, de cair de ponte para achar o melhor ângulo de selfie, milhares delas num arquivo de celular, não deixa de ser um salto da humanidade, como disseram da chegada do homem à Lua!
Os antigos geralmente ficavam nas paredes das salas, em cantinhos organizados, sobre o piano, se na casa houvesse um, sempre em lugar de destaque. E quando chegavam visitas eram mostradas… esta é fulana, aqui foi quando meu irmão chegou da guerra, aqui quando ele entrou para o jardim de infância, aqui quando eles vieram para o Natal.
Lembro-me de um que foi rigorosamente organizado. Três irmãos soldados. Esse era daqueles pintados. Dificilmente, em razão da idade, estariam os três no quartel. Mas era o orgulho dos meus pais. E quando não concordavam com a pintura copiada? Era o ano todo os senhores de terno e gravata vindo conversar para cobrar e a família resistindo.
Lindos mesmo eram os das madames da sociedade! Enormes! De tinta a óleo. Esses eram poucas pessoas que tinham. As senhoras posavam para os fotógrafos. Para que eles terminassem o retrato tirado na máquina.
As máquinas tinham seus mistérios, só os fotógrafos as viam; eram aquelas que tinham uma cobertura preta de tecido e eles colocavam a cabeça dentro dessa capa para bater a foto, e espocava a luz intensa do flash.
Retratos, fotografias, monóculo, binóculo, preto e branco, colorido, com molduras de madeiras, molduras de gesso trabalhado, às vezes, dourados. A arte de parar o tempo! A época do: Olha o passarinho!
A vontade de eternizar o momento!
Retratos