Adriana, Lidia e Sonia são amigas inseparáveis. Desde a escola primária, vivem grudadas umas nas outras.
– Adriana, pede pra sua mãe deixar você dormir sábado aqui em casa?
— Mas e a Lídia?
— Ela já confirmou. A avó dela deixou.
— Tá bom, amiga. Vou ver se a convenço.
Com a noite das meninas confirmada, Sônia pegou o caderno de perguntas e respostas e queria passar a noite descobrindo tudo que pudesse sobre os meninos.
As perguntas eram simples, mas poderiam dar muitas pistas.
— Gosta da sua letra?
— Seu sorvete favorito?
— Cor favorita?
— Qual foi a última coisa que comeu hoje?
Também havia perguntinhas não tão bobas, e essas eram a curiosidade das meninas. Aquelas que dariam uma pista sobre o pensamento dos garotos para a vida futura.
Nesse tempo onde os jovens eram ainda tão inocentes, há muito ficou para trás. Lidia tornou-se aeromoça e risca os céus desse mundão a bordo dos mais potentes aviões. Segundo diz, ela mesma proporciona os luxos, as fantasias e o glamour de que tanto gosta. E ainda provoca as amigas dizendo não trocar sua vida de solteira por nenhum amor de comerciais de margarina!
Lídia está em seu terceiro casamento.
Segundo suas próprias palavras, ela não tem preguiça de recomeçar e nem arquiva traumas. Logo parte para outro relacionamento, se o anterior não deu certo.
A Sónia é uma advogada de sucesso, bonita, tem uma carreira consolidada. Está sempre aguardando um príncipe encantado, mesmo já em seus quarenta e poucos anos. Quando menina, era a mais interessada no caderno de perguntas.
Sonia idealiza o amor. Ah, o amor. O que dá frio na espinha, o que faz o coração bater descontrolado, o que seca os lábios de nervoso…
Ela sempre acha que encontrou o homem ideal. Até que o príncipe se revela um sapo.
Sendo a mais romântica, toda vez que inicia um namoro, não demora nada, o homem em questão vai se afastando aos poucos, até chegar na famosa frase: a gente se vê!
Ela já conhece todas as saídas estratégicas dos homens: a mãe adoece; vai viajar a negócios; não é a hora certa para um relacionamento sério; e por aí vai.
Mas seu sonho não acaba com o fim do namoro. Seu desejo de um grande amor pra vida toda, esse é o que faz com que ela trabalhe, estude, se arrume, viaje, vá a shows e peças de teatro.
Em uma noite dessas, ela viu um homem lindo, de smoking, cabelos grisalhos, tentando manobrar um conversível. Ele ligou, pisou no acelerador para arrancar e o carro morreu. Tentou de novo e nada.
Sônia se aproximou e perguntou: — Precisa de ajuda?
Ele apertou os olhos para enxergá-la melhor.
Sônia, os cabelos ruivos cacheados descendo em cascata por seu ombro, olhava de cima do salto 15 para o carro e para o homem, sem entender bem porquê ele a olhava admirado.
Teve uma vaga impressão de que já o tinha visto antes .
Ele estendeu a mão e se apresentou.
—Prazer, Ricardo Jaime.
Ela sorriu e entrou no clima.
— Ali logo na esquina tomar um táxi.
— Se não se importar, posso acompanhá-la?
E foram andando e conversando.
Mas em seu íntimo Sônia já tinha decretado: é esse o meu príncipe!
Sorri lembrando-se de um filme lindo onde a moça encontrou o amor de forma idêntica ao que acabara de acontecer!
Quer que eu dirija pra você o seu carro?
Você sabe?
Sim! Ja fui manobrista, ela diz sorrindo.
Então tá! E lhe estende a chave
Ela abre a porta do carona, ele entra.
Ela toma o volante e sai dirigindo maravilhosamente bem! Aumenta a velocidade, olha para ele e pensa consigo mesma:
O príncipe encantado é ele! Sonia fica feliz só em sonhar! Afinal, sonhar não custa nada, ela pensa.
Maria Elza