Crônicas para o meu neto.
Eu tenho um neto que me mostrou a força que eu não sabia que tinha…
Nasceu com um problema de saúde. A princípio me assustou…
Mas depois me fortaleceu.
E essa força não era física…
Era inexplicável…
Era a força do instinto, um instinto que não é o materno,
Um instinto “vóterno”…
Eu atravessava de um bairro a outro, a pé, para ajudar a cuidá-lo
Me fez “mudar” e acampar na casa dele, para ajudar a cuidá-lo…
Por fim, me fez mudar literalmente de casa, pois eu precisava trazê-lo para mais perto de mim, para ajudar a cuidá-lo.
Porquê? Porque eu acreditava que só eu o acalmava.
Que suas dores e cólicas eram minimizadas só com minhas massagens.
Que meus braços transmitiam um calor anestésico que o fazia dormir.
Para que sua mãe descansasse um pouco…
E aquele neto , aos um, dois anos, me ensinou o que era resiliência…
O que era determinação,
O que era amor à organização,
O que era comando…
Aquele bebê, arrumava sua própria mala, escolhia os brinquedos que levaria
ao hospital; desmanchava a gaveta e jogava as roupas no chão para escolher qual ia levar.
Era uma força em miniatura.
Era uma Graça em forma de criança.
Meu neto cresceu, tornou-se um adolescente e como tal, quase o perdi.
Não por problemas de saúde, pois esses foram todos resolvidos.
Mas para um mundo ao qual eu não pertencia. Um mundo paralelo ao meu.
Um mundo proporcionado talvez por mim mesma. Numa casa, num celular, num carro onde certamente participei da aquisição, como bem material.
Mas do qual eu fiquei de fora, pois eu não conhecia, eu não pertencia.
Não havia diálogos.
Não contávamos histórias um ao outro.
Não ríamos juntos.
Eu me perdi dele, ou ele se perdeu de mim?
Nada disso! Reinventei-me. Aprendi a jogar vídeo game, a ser “descolada”, a saber a linguagem do momento, a navegar na internet, a ouvir podcast, ver streaming, a ser atual.
Ah senhores! Vocês não imaginam a força de uma avó!
Reencontrei a mesma força, o mesmo elo, e o mesmo neto!
Nada estava perdido, pois onde há amor os elos não são rompidos!
Acreditem, as avós são quase eternas!
Maria Elza