A cartomante

Ovnis, balões, luzes cortando o céu! Videntes em redes sociais, fazendo lives, marcando hora para podcast. Vivemos em um mundo moderno, alta tecnologia, e mesmo assim o sobrenatural ainda sobrevive.

Tudo isso me fez recordar uma história que conto aqui. Ahhh, em tempo: “No creo em brujas, pero que las hay, las hay” já dizia meu pai. 

Ela morava longe. Estrada de chão, fora do perímetro urbano. Nem por isso Joana desistiu. Com Sara ao seu lado, entrou em uma rua  de areia e o carro rodou. Um menino trepado em uma cerca de arame de uma casinha de madeira, assistiu a tudo e gritou:

— Ei, ei! Por aí não! Tem que seguir o trilheiro, porque aí é certeza que o carro passa.

— Tá, mas e agora? Agora ele já está atravessado.

— Pera aí, eu vou ajudar vocês.

Desceram do carro, sol a pino, enfatiotadas em roupas sociais, bolsas e saltos. 

Joana sentiu o rosto quente da figura ridícula que faziam, mas concentrou-se em ajudar o menino a colocar as tábuas sob os pneus traseiros.

Ele garantiu que se dessem ré sobre as tábuas, era só manobrar para desvirar o carro e seguir pela terra batida, sem mais delongas. 

A destreza com que deu as instruções, mais os apetrechos à mão para as manobras pareceu muito costumeiro ao menino, pensou Joana. Antes que ela completasse seu pensamento, ele foi dizendo: —Me dê uns trocos pela ajuda? Vocês estão indo lá na mãe Luzia, né? Então não abandonem o chão batido e na volta vocês saem pelo lado direito. É só andar duas quadras, entrar na rua onde tem um borracheiro na esquina, mais três quadras, vira à esquerda e pronto: já estão no asfalto!

Boa sorte! E podem acreditar que ela é boa, mesmo!

Joana olhou para Sara e resmungou:

— Que guri intrometido!

Só faltou dar as   previsões! Como sabe que estamos indo lá na cartomante? 

Sara olhou para sua amiga de aventura. Joana é mais velha que ela, mal casada como ela mesma diz, trabalham juntas; é a pessoa responsável por todo o escritório. Não gosta que a chamem de chefe. Bonita, bem cuidada, perfumada, uma mulher de presença. 

Sara, morena, mais jovem, solteira. Tem um enrosco, como ela se refere ao homem que há mais de dez anos some e aparece quando bem entende. Cliente contumaz da cartomante, com quem criou uma relação de dependência. Basta seu homem sumir para ir confirmar com a mãe Luzia se ele não a trocou por outra. E para garantir que voltará, leva champagne, perfume, sabonetes de luxo e coloca aos pés da pomba gira.

Tudo isso ela contou à Joana, quando com seu olho clínico a observou um dia, com grandes manchas de olheiras e um suspirar contínuo. 

— Joana, você está com encosto!

— O quê? 

— Nunca ouviu falar? Encosto, mau olhado, feitiço? 

— Já ouvi , mas eu não mexo com essas coisas.

— Aí é que está. Se não mexe, não se protege. Dá nisso! 

— Nisso, o que?

— Vamos sair. Venha conversar comigo ali fora, perto das plantas, da natureza.

Joana não retrucou. Sentiu-se reconfortada por uma pessoa simples como Sara ter percebido como ela estava e se dispor a ajudá-la. Bem sabia o que vinha passando, mas não saberia a quem abrir seu coração, o que significaria abrir sua vida. 

Ao mesmo tempo, Joana achava todas as suas frustrações tão banais!  Se repreendeu mentalmente por ser tão fantasiosa…

Sentia-se perplexa com o caos que existia em sua mente, a mistura de sonhos e fantasias. Quando adolescente lia os romances pueris, onde os jovens se esbaldam em sua juventude, descobrem entre seus próprios amigos aquele que virá a ser o grande amor de suas vidas; casam-se e  moram em casas perfeitas, com um cão amarelo da raça golden deitado no tapete aos pés do homem de sua vida, enquanto a linda esposa tricota a roupa do bebê ainda inexistente.

Joana tem noção que não está naquele tempo. Eram romances de uma época já passada. O vazio que sente é agora, a urgência em ser feliz é de hoje! 

E por isso ela sente que não será feliz presa ao casamento que está. Sua aflição chama-se indecisão.

Na conversa com Sara, ela ouviu loas à mãe Luzia. O quanto era sábia, quantas vezes trouxe de volta o seu amor, quantas vezes já limpou Sara de energias negativas e por aí foi os elogios.

Joana manteve-se relativamente reservada. Apenas comentou estar passando por um período de reflexões e sensações desconexas e gostaria de encontrar em algum lugar uma resposta ou ajuda.

Sara, sambada nas rodas de mãe Luzia, a convenceu a ir até lá. Eram favas contadas.

— Se bem não fizer, mal também não faz! Vamos!

Esse era o contexto da aventura que estavam vivendo. 

Chegaram. Sara espertamente entrou e conversou com a mãe Luzia.

Esta saiu e recebeu Joana.

— Entre Joana! Você é mais

bonita pessoalmente.

Joana não entendeu porque a  cartomante disse isso. 

Até olhar para a mesa cheia de copos de água, fotos, santos e velas acesas e arregalar os olhos, ao dar de cara com uma uma foto sua e de seu marido em uma moldura, com uma vela acesa em frente. 

Maria Elza

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Publicado por blogdadivinablog

Me autodenominei Divina, Perfeita e Maravilhosa. Não é por vaidade e sim porque acredito que foi assim que Deus nos criou: à sua imagem e semelhança. Mesmo que humanamente isso pareça impossível, ao expressar minha crença me sinto bem. Busco o melhor sempre. Tenho fases, sou de Libra e isso ajuda a explicar minhas qualidades e meus defeitos. Amo a vida, minha família, meus amigos. Estudei bastante, sempre gostei de ler, li romances, documentários, biografias...mas minha maior bagagem é de vida, pois sou intensa. Amo muito, preocupo-me muito, erro muito, e procuro muito acertar! Vou dividir com vcs um pouco da minha experiência de vida, neste espaço que considero meu "travesseiro virtual" e o convido a compartilhá-lo comigo. Venha?! Criei este blog em agosto de 2010 na plataforma blogspot. Posteriormente o trouxe para o WordPress . Agora em 2021 estou agregando-o ao meu site asdivinas.com.br

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